RESUMO
Objetivo
Analisar a qualidade das práticas profissionais em programas de controle de infecção quanto à estrutura, processo e resultado.
Método
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e transversal, realizado em 114 serviços de controle de infecção hospitalar nas cinco regiões oficiais do Brasil. Os dados foram coletados por meio de instrumento estruturado, cujas propriedades psicométricas foram previamente validadas. O tratamento dos dados foi realizado por meio da análise de componentes principais e do teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.
Resultados
O melhor índice de qualidade dos programas de controle de infecção foi atribuído à região Sul, aos hospitais que tinham 300 leitos ou mais, aos que utilizavam o critério da National Healthcare Safety Network para vigilância de infecção e aos locais que realizavam busca prospectiva ativa como método de vigilância. Conclusão e implicações para a prática: A qualidade dos programas de controle de infecção está relacionada à localização, ao porte e ao método de vigilância de infecção do hospital. A criação de um índice de qualidade, até então inédito em estudos brasileiros, chama a atenção para o desempenho precário dos serviços de saúde.
Palavras-chave:
Programa de Controle de Infecção Hospitalar; Controle de Infecção; Serviços Hospitalares; Segurança do Paciente
RESUMO
Mirar
Analisar a qualidade das práticas de profissionais dos programas de controle de infecção em relação aos componentes de estrutura, processo e resultado.
Método
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, do tipo descritivo e transversal realizado em 114 serviços de controle de infecção hospitalar das cinco regiões oficiais do Brasil. Coletaram-se os dados por meio de um instrumento estruturado, cujas propriedades psicométricas foram validadas previamente. O tratamento dos dados foi realizado pela análise de componentes principais e o teste não paramétrico Kruskal-Wallis.
Resultados
O melhor índice de qualidade dos programas de controle de infecção foi atribuído à região Sul, aos hospitais que continham 300 leitos ou mais, aos que utilizavam o critério National Healthcare Safety Network para vigilância das infecções e aos locais que realizavam busca ativa prospectiva como método de vigilância.
Conclusão e implicações para a prática
O índice de qualidade dos programas de controle de infecção está relacionado à localização, ao tamanho do hospital e ao método adotado para vigilância de infecções. A criação de um índice de qualidade, até então inédito em estudos nacionais, chama atenção para o desempenho precário dos serviços de saúde.
Palavras-chave:
Controle de Infecções; Programa de Controle de Infecção Hospitalar; Segurança do Paciente; Serviços de Controle de Infecção Hospitalar
RESUMO
Mirar
Analisar a qualidade das práticas dos profissionais dos programas de controle de infecção em relação aos componentes estrutura, processo e resultado.
Método
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e transversal, realizado em 114 serviços de controle de infecção hospitalar das cinco regiões oficiais do Brasil. Os dados foram coletados por meio de instrumento estruturado, cujas propriedades psicométricas foram previamente validadas. O tratamento dos dados foi realizado por meio de análise de componentes principais e teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.
Resultados
O melhor índice de qualidade dos programas de controle de infecção foi atribuído à região Sul, aos hospitais que possuíam 300 leitos ou mais, aos que utilizavam os critérios da Rede Nacional de Segurança em Saúde para vigilância de infecções e aos estabelecimentos que realizavam buscas prospectivas ativas como o método de vigilância.
Conclusão e implicações para a prática
A qualidade dos programas de controle de infecção está relacionada à localização, ao tamanho do hospital e ao método adotado para vigilância de infecções. A criação de um índice de qualidade, até então inédito nos estudos brasileiros, chama a atenção para o precário desempenho dos serviços de saúde.
Palavras-chave:
Controle de Infecção; Prevenção e controle; Programa de Controle de Infecção Hospitalar; Segurança do Paciente; Serviços Hospitalares
INTRODUÇÃO
Qualidade em saúde é um conjunto de propriedades atribuídas ao atendimento das necessidades dos pacientes para uma melhoria contínua da segurança do cuidado. Um dos modelos de avaliação de qualidade é a tríade de Donabedian, compreendendo os componentes estrutura, processo e resultado, visando monitorar, detectar e ajustar desvios para atingir as metas esperadas.1
Neste modelo de avaliação da qualidade da assistência à saúde, a estrutura se refere às características organizacionais atribuídas aos vários recursos disponíveis. Em relação ao processo, as normas e procedimentos relacionados às atividades realizadas nas instituições são enfatizados. Finalmente, o componente de resultado pode ser atribuído a índices de avaliação da assistência à saúde que refletem o sistema.1
Dentre as diversas condições que afetam a qualidade, destacam-se as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).2–4Nos Estados Unidos, estima-se que 1,7 milhões de HAI ocorram a cada ano, totalizando 99 mil mortes. A incidência de infecções na Europa afeta cerca de 2.609.911 pacientes hospitalizados por ano e aproximadamente 37 mil mortes são relatadas.2,3No Brasil, as taxas são semelhantes às de outros países em desenvolvimento, acima de 10,8%, variando de acordo com a complexidade do atendimento à saúde.4
Os serviços de saúde podem evitar as IRAS realizando vigilância epidemiológica e adotando medidas eficientes de controle de infecções. Uma das estratégias inclui a implementação do Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), definido pelo Ministério da Saúde do Brasil como um conjunto de ações deliberadas e sistemáticas que visam reduzir ao máximo a incidência e a gravidade dessas infecções.3,5
As ações desenvolvidas no PCIH ainda são diversificadas e reforçam problemas que exigem uma melhoria dos componentes de qualidade.6–8Esses problemas estão associados à falta de incentivos governamentais, ao apoio financeiro reduzido, à quantidade insuficiente de recursos humanos e à infraestrutura inadequada, o que influencia negativamente a promoção de cuidados seguros e livres de danos.9
Estudos reforçam a importância do desenvolvimento de estratégias de monitoramento do Programa por meio da análise periódica das atividades da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH).8–9Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma nova diretriz com recomendações baseadas em evidências sobre os componentes essenciais para a implementação e monitoramento do PCIH tanto regional quanto centralmente.3Entretanto, as publicações priorizam uma abordagem local do panorama da qualidade da assistência à saúde na prevenção e controle de IRAS. 7,-8
Dessa forma, a literatura ainda não estabelece um índice brasileiro de qualidade relacionado à estrutura, processo e resultado que permita compreender a realidade dos serviços diante das atividades propostas pelo PCIH. Além disso, os estudos não oferecem uma comparação dos serviços de saúde por meio de uma avaliação sistemática das práticas dos profissionais do SCIH.8–10Essa lacuna reforça a contribuição deste estudo no reconhecimento da magnitude das infecções e seus impactos na qualidade da assistência à saúde.
Espera-se que este estudo alerte gestores de saúde e órgãos reguladores de saúde sobre a real situação da qualidade dos programas de controle de infecção brasileiros. Esses dados podem embasar políticas públicas voltadas à prevenção de IRAS e outras doenças de relevância epidemiológica que afetam diretamente a saúde pública.
Assim, o objetivo deste estudo é analisar a qualidade das práticas dos profissionais dos programas de controle de infecção quanto aos componentes estrutura, processo e resultado.
MÉTODO
Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, transversal. A construção dos passos metodológicos deste artigo foi norteada pelos critérios da ferramenta Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).11
Foi empregada amostragem não probabilística por conveniência, por meio da técnica bola de neve. O público-alvo deste estudo abrangeu enfermeiros e médicos especialistas em controle de infecção e/ou áreas afins. Os critérios de inclusão foram ser profissional de saúde de serviço público, privado, filantrópico ou beneficente de pequeno, médio ou grande porte e ter mais de um ano de experiência. Foram excluídos aqueles que não eram funcionários do HICS e/ou que não haviam concluído curso de graduação (acadêmicos/estagiários).
A amostra foi composta por 114 profissionais de saúde: 103 enfermeiros especialistas em controle de infecção e 11 médicos, estratificados em 9 infectologistas e 2 epidemiologistas. Eles representam os serviços de controle de infecção das cinco regiões oficiais brasileiras: Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul. Os primeiros quarenta e cinco locais foram recrutados pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde ( CNES ), localizados nas capitais de cada estado brasileiro. Os participantes foram contatados pelo primeiro pesquisador por telefone e/ou e-mail. Posteriormente, os profissionais de saúde responderam a um instrumento estruturado enviado por e-mail enquanto indicavam outros serviços, até que uma amostra nacional fosse alcançada. Nesta etapa, não houve recusas ou perdas de participantes.
A coleta de dados foi realizada de dezembro de 2018 a julho de 2019 por meio de um instrumento de avaliação de Programas de Controle de Infecção. A ferramenta foi construída e validada pelos pesquisadores por meio de um estudo metodológico publicado.12Esta ferramenta inclui 36 questões de múltipla escolha estratificadas em 15 itens relacionados à avaliação da estrutura, 16 relacionados ao processo e cinco relacionados ao resultado. Todas as questões foram seguidas de definições, explicações detalhadas e conceitos, que incluíam as normas atribuídas a cada questão. As respostas para cada questão foram geradas por meio de uma escala Likert contendo as seguintes opções: sim, parcialmente e não. O índice de validade de conteúdo (0,902) e o teste alfa de Cronbach (0,82) mostraram que os itens têm boa consistência interna. A coleta de dados foi escolhida para ser interrompida em agosto de 2019 após nenhuma resposta ter sido obtida por mais de três semanas.
A variável desfecho de interesse foi o Índice de Qualidade do Programa de Controle de Infecção (ICPQI). As variáveis investigadas foram: tipo de administração (privada, pública, filantrópica, beneficente/outra); região brasileira (Sudeste, Norte, Centro-Oeste, Nordeste ou Sul); corpo clínico (aberto ou fechado), número de leitos e especialidades de assistência à saúde (clínica e/ou cirúrgica, outras). Além destas, foram incluídas questões sobre a avaliação dos programas de controle de infecção.
Para tratamento e análise dos resultados, foi realizada a verificação do banco de dados, com dupla checagem das informações quanto a inconsistências que necessitassem de ajustes. Na primeira etapa, foi realizada análise exploratória por meio de estatística descritiva utilizando valores absolutos e relativos para caracterizar os serviços envolvidos neste estudo utilizando o software Epi Info (versão 6.0).
Para criar o ICPQI, a Análise de Componentes Principais (ACP) foi aplicada à matriz de correlação amostral das variáveis. Essa técnica estatística permitiu a criação de combinações lineares das variáveis, que foram correlacionadas e empregadas para criar um índice de adequação para permitir a comparação do IHPC não apenas para cada índice de qualidade isoladamente, mas globalmente, por meio de um único indicador de qualidade global.
Assim, a implementação desta técnica envolveu a verificação do grau de associação entre as variáveis de interesse. As diferenças entre as unidades de medida das variáveis podem levar a discrepâncias marcantes entre as variâncias. Para reduzir este problema e possíveis vieses, os autovalores da variância foram balanceados, colocando-os na mesma unidade de medida e obtendo-se assim a matriz de correlação das respostas para cada uma das 36 variáveis.
Inicialmente, a matriz de correlação foi decomposta, os autovalores dessa matriz foram encontrados e o número de componentes implícitos na estrutura base das questões foi avaliado. Assim, obteve-se o primeiro autovetor, com 36 valores referentes às variáveis do estudo. Posteriormente, foram calculados a média e o desvio padrão de cada variável para serem utilizados no cálculo do escore padronizado, que foi considerado para a construção do número índice. A última etapa definiu o escore padronizado das respostas por meio de um ponto de corte estatístico nos quartis.
Por fim, foram definidas as faixas dos valores do ICPQI para comparação entre os serviços de saúde e suas respectivas categorias de qualidade, que foram: muito precário (ICPQI ≤ -3), precário (ICPQI > 3 e ≤ 0), moderado (ICPQI > 0 e < +2), bom (ICPQI ≥ +2 e < +3) e muito bom (ICPQI ≥ +3). Após a verificação da normalidade das variáveis, foi adotado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para comparação dos escores (média, mediana e desvio padrão); o nível de significância foi de 0,05. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software IBM ® SPSS.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Lifecenter sob o parecer número 2.340.091 e CAAE: 78299817.0.0000.5126, em 20/10/2017. Os participantes foram incluídos após leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Dos 114 serviços de saúde envolvidos neste estudo, 72 (63%) estavam na região Sudeste do Brasil e 45 (39%) eram instituições privadas contendo 200 leitos (47%). Do total, 90 (79%) possuíam especialistas clínicos e cirúrgicos e 63 (55%) possuíam corpo clínico aberto. Além disso, 100 (87,7%) adotaram o critério da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( ANVISA ) para vigilância epidemiológica de infecções e 45 (39,5%) utilizaram o método prospectivo para investigação de IRAS.
A Tabela 1 apresenta uma análise da qualidade do PCIH quanto à estrutura, processo e resultado. Apenas 36 (31,6%) dos serviços possuíam programa de manejo de antimicrobianos e 53 (46,5%) relataram que os protocolos de segurança do paciente foram efetivamente implementados. Não mais do que 29 (25,4%) tiveram a participação de stakeholders (público estratégico) na elaboração de protocolos e diretrizes de prevenção e controle de IRAS. Em relação à educação em saúde, apenas 25 (22%) responderam que os médicos participavam regularmente dos treinamentos propostos pelo PCIH. Estratégias multimodais foram empregadas por 48 (42,1%) serviços de saúde. Notavelmente, 80 (70,2%) participantes relataram que a equipe multidisciplinar estava sobrecarregada. Apenas 60 (52,6%) instituições monitoravam periodicamente a qualidade do ar.
DISCUSSÃO
Com a avaliação das práticas profissionais nos programas de controle de infecção, observou-se que os serviços de saúde relataram sobrecarga de trabalho, ao mesmo tempo em que indicaram a necessidade de monitoramento periódico da qualidade do ar e de acompanhamento do uso de antibióticos por meio de programa de manejo específico. Outro aspecto marcante é a baixa adesão dos médicos ao treinamento proposto pelo HICS.
Nessa perspectiva, os serviços incluídos neste estudo apresentaram ações diversificadas no contexto da prevenção e controle de infecções influenciando a qualidade da saúde. Esse fato está relacionado a uma baixa adesão da equipe multidisciplinar frente às atividades operacionais propostas pelo SCIH.10Embora a adesão ao PCIH ofereça oportunidades de melhoria em países como Áustria, Brasil e China, o impacto da implementação deste programa promove reduções significativas de IRAS, que incluem diversas topografias, resistência antimicrobiana e aumento da taxa de sobrevida dos pacientes.10,13–15
Este estudo mostrou que a sobrecarga de trabalho, a implementação de protocolos específicos para a redução de IRAS, a educação em saúde e o uso de estratégias multimodais devem ser reconhecidos como prioridades na tomada de decisões. Um estudo conduzido em 65 hospitais austríacos mostrou falhas semelhantes que devem ser melhoradas por gestores e profissionais de saúde, uma vez que isso é crucial para a segurança do paciente e para garantir os padrões mínimos de qualidade aceitáveis.13
A oferta, o acesso e a utilização de serviços de saúde no Brasil apresentam menos discrepâncias nas regiões Sul e Sudeste.16Este estudo mostra que essas duas regiões apresentam o melhor ICPQI. Outro estudo que avaliou a estrutura de prevenção de IRAS em hospitais brasileiros reforça a necessidade de elaboração de um plano nacional priorizando esse componente de qualidade, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, que apresentam menor crescimento econômico e recursos mínimos para prevenção de doenças infecciosas quando comparadas ao Sul e Sudeste.6
Entretanto, quando se trata da administração dos serviços de saúde, observou-se que o melhor desempenho é do setor privado. Há algumas passagens na literatura que atribuem essa variável ao desempenho do ICPQI, o que permite relacionar os achados ao maior investimento em estrutura, equipamentos e recursos tecnológicos nesse setor. A busca pela qualidade da saúde deve ser universal, incluindo serviços públicos e filantrópicos. Uma das sugestões de melhoria está relacionada aos processos de auditoria, qualificação ou acreditação no setor saúde, que podem contribuir para avanços organizacionais nas ações sistemáticas desenvolvidas pelos profissionais de controle de infecção.17,18
Foi avaliada também a capacidade operacional dos serviços de saúde com 300 leitos ou mais, fator associado ao melhor índice de qualidade. Hospitais de pequeno porte (até 50 leitos) frequentemente apresentam recursos precários por falta de investimento econômico.17,19De fato, estudos mostram que hospitais com 200 leitos ou mais poderiam ter melhores recursos tecnológicos para facilitar a prevenção e o controle de IRAS, como suprimentos adequados para higiene das mãos, esterilização de produtos de saúde e suporte laboratorial para análise microbiológica de amostras.6
Os serviços de saúde que utilizaram o critério do NHSN apresentaram melhor desempenho quando comparados aos que utilizaram o critério da ANVISA. Embora sejam observadas algumas diferenças conceituais entre as duas metodologias, não há restrições epidemiológicas à detecção e notificação de casos.20,21Uma possível explicação para o baixo desempenho da qualidade do PCIH é a diferença de parâmetros laboratoriais entre os critérios diagnósticos. Reforçando essa análise, pesquisadores brasileiros têm chamado a atenção para o fato de que discordâncias entre metodologias podem impactar indicadores de infecção, sub ou superestimando taxas de incidência.10
Além dos critérios utilizados pelos profissionais do SCIH, o método prospectivo de vigilância de IRAS foi relacionado ao melhor ICPQI. No entanto, a literatura não apresenta explicação para esse resultado. Infere-se que acompanhar os casos de infecção ativamente favorece uma rápida detecção de casos inesperados e, assim, subsidiar a elaboração de ações preventivas assertivas o mais precocemente possível.22,23
Chama a atenção o índice de qualidade dos locais de estudo avaliados, que variou de moderado a muito precário. Esse era um resultado esperado, considerando que o Brasil tem um território extenso e é diversificado quanto à situação econômica entre seus estados, recursos para prevenção de doenças infecciosas, incentivo governamental e profissionais qualificados.6,16,19Uma hipótese para justificar esse desempenho ineficiente é a baixa adesão dos serviços aos programas nacionais propostos pelos órgãos de saúde, que geralmente não consideram as especificidades regionais durante a construção das diretrizes de controle de IRAS.
Considerando o arcabouço de Donabedian e os resultados, a avaliação dos componentes da qualidade deve ser observada simultaneamente e transversalmente pelos profissionais do SCIH, representando uma abordagem criteriosa para avaliação do PCIH. A literatura reforça que a busca pela qualidade deve ser global, envolvendo desde a alta gerência até a equipe operacional, em que as ações propostas pelo PCIH podem contribuir para melhorias no cuidado ao paciente.1,23Portanto, este estudo apresentou resultados promissores em relação a esta temática, visando à redução da incidência de IRAS e às melhores práticas baseadas em evidências.
CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA
Com base nas ações diversificadas no contexto de prevenção e controle de IRAS, a heterogeneidade do Brasil contribuiu para um desempenho ruim do índice de qualidade entre os serviços de saúde analisados, classificados como moderados, precários ou muito precários. No entanto, os serviços de saúde localizados na região Sul, de administração privada, com 300 leitos ou mais, que utilizaram o critério da National Healthcare Safety Network para vigilância de IRAS e que realizaram busca prospectiva ativa como método de vigilância apresentaram resultados promissores para o PCIH.
Este estudo apresentou algumas limitações que devem ser consideradas. A primeira consiste na dificuldade de generalização dos resultados devido à amostragem não probabilística empregada. O tamanho da amostra também é restrito em determinadas regiões brasileiras, o que não impede o alcance dos objetivos propostos. Para dar conta disso, os pesquisadores adotaram precauções na análise estatística para reduzir possíveis vieses. Por fim, as conclusões sobre quais variáveis estão associadas aos melhores resultados do ICPQI enfrentam limitações metodológicas, pois estas podem levar a possíveis interpretações sobre a associação do melhor desempenho com hospitais que empregam critérios não indicados pela agência nacional.
A contribuição deste estudo para a prática está nos dados que mostram a necessidade de melhoria dos componentes de qualidade do PCIH. A criação de um índice de qualidade chama a atenção para o desempenho precário dos serviços de saúde. Este estudo pode alertar os gestores de saúde sobre a heterogeneidade do Brasil em relação às deficiências de estruturas, processos e resultados. Portanto, os resultados subsidiam a construção de políticas de prevenção e controle de IRAS baseadas na segurança do paciente.
AGRADECIMENTOS
We thank Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) for the support provided with resources of Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP), of Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
REFERÊNCIAS
- 1
Ayanian JZ, Markel H. Estrutura duradoura de Donabedian para qualidade de assistência médica. N Engl J Med. 2016 jul 21;375(3):205-7. http://dx.doi.org/10.1056/NEJMp1605101 PMid:27468057.
» http://dx.doi.org/10.1056/NEJMp1605101 - 2
Manoukian S, Stewart S, Dancer S, Graves N, Mason H, McFarland A et al. Estimativa do tempo excessivo de internação devido a infecções associadas à assistência à saúde: uma revisão sistemática e meta-análise de metodologia estatística. J Hosp Infect. 2018;100(2):222-35. http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2018.06.003 PMid:29902486.
» http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2018.06.003 - 3
Lee MH, Lee GA, Lee SH, Park YH. Eficácia e componentes principais de programas de prevenção e controle de infecções em instalações de cuidados de longo prazo: uma revisão sistemática. J Hosp Infect. 2019 ago;102(4):377-93. http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2019.02.008 PMid:30794854.
» http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2019.02.008 - 4
Fortaleza CMCB, Padoveze MC, Kiffer CRV, Barth AL, Carneiro ICRS, Giamberardino HIG et al. Inquérito multi-estadual sobre infecções associadas à assistência à saúde em hospitais de cuidados agudos no Brasil. J Hosp Infect. 2017;96(2):139-44. http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2017.03.024 PMid:28433398.
» http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2017.03.024 - 5
Portaria n. 2.616, de 12 de maio de 1998 (BR). Dispõe sobre diretrizes e normas para a prevenção e o controle das infecções hospitalares. Diário Oficial da União [periódico na internet], Brasília (DF), 1998 [citado 2022 jul 6]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html
» http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.html - 6
Padoveze MC, Fortaleza CM, Kiffer C, Barth AL, Carneiro IC, Giamberardino HI et al. Estrutura para prevenção de infecções associadas à assistência à saúde em hospitais brasileiros: um estudo de âmbito nacional. Am J Infect Control. 2016;44(1):74-9. http://dx.doi.org/10.1016/j.ajic.2015.08.004 PMid:26412480.
» http://dx.doi.org/10.1016/j.ajic.2015.08.004 - 7
Menegueti MG, Canini SRMS, Bellissimo-Rodrigues F, Laus AM. Avaliação dos Programas de Controle de Infecção Hospitalar em serviços de saúde. Rev Lat Am Enfermagem. 2015;23(1):98-105. http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.0113.2530 PMid:25806637.
» http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.0113.2530 - 8
Alves DCI, Lacerda RA. Avaliação de Programas de Controle de Infecção relacionada a Assistência à Saúde de Hospitais. Rev Esc Enferm USP. 2015;49(spe):65-73. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420150000700010
» http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420150000700010 - 9
Salmanov A, Vozianov S, Kryzhevsky V, Litus O, Drozdova A, Vlasenko I. Prevalência de infecções associadas à assistência à saúde e resistência antimicrobiana em hospitais de cuidados agudos em Kiev, Ucrânia. J Hosp Infect. 2019;102(4):431-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2019.03.008 PMid:30910424.
» http://dx.doi.org/10.1016/j.jhin.2019.03.008 - 10
Giroti ALB, Ferreira AM, Rigotti MA, Sousa ÁFL, Frota OP, Andrade D. Programas de Controle de Infecção Hospitalar: avaliação de indicadores de estrutura e processo. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03364. http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220×2017039903364 PMid:30088544.
» http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220×2017039903364 - 11
Cheng A, Kessler D, Mackinnon R, Chang TP, Nadkarni VM, Hunt EA et al. Diretrizes de relatórios para pesquisa de simulação de assistência médica. Simul Healthc. 2016 ago;11(4):238-48. http://dx.doi.org/10.1097/SIH.0000000000000150 PMid:27465839.
» http://dx.doi.org/10.1097/SIH.000000000000150 - 12
Alvim ALS, Gazzinelli A, Couto BRGM. Construção e validação de instrumento para avaliação da qualidade dos programas de controle de infecção. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200135. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200135 PMid:33886924.
» http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200135 - 13
Aghdassi SJS, Hansen S, Bischoff P, Behnke M, Gastmeier P. Uma pesquisa nacional sobre a implementação de estruturas-chave de prevenção e controle de infecções em hospitais alemães: resultados de 736 hospitais que conduziram o Quadro de Avaliação de Prevenção e Controle de Infecções da OMS (IPCAF). Antimicrob Resist Infect Control. 2019;8:73. http://dx.doi.org/10.1186/s13756-019-0532-4 PMid:31080588.
» http://dx.doi.org/10.1186/s13756-019-0532-4 - 14
Wang J, Liu F, Tan JBX, Harbarth S, Pittet D, Zingg W. Implementação de prevenção e controle de infecções em hospitais de cuidados agudos na China continental – uma revisão sistemática. Antimicrob Resist Infect Control. 2019;8(1):32. http://dx.doi.org/10.1186/s13756-019-0481-y PMid:30792854.
» http://dx.doi.org/10.1186/s13756-019-0481-y - 15
Ershova K, Savin I, Kurdyumova N, Wong D, Danilov G, Shifrin M et al. Implementar um programa de controle e prevenção de infecções diminui a incidência de infecções associadas à assistência médica e resistência a antibióticos em uma UTI neurológica russa. Antimicrob Resist Infect Control. 2018 jul 31;7:94. http://dx.doi.org/10.1186/s13756-018-0383-4 PMid:30083313.
» http://dx.doi.org/10.1186/s13756-018-0383-4 - 16
Oliveira RAD, Duarte CMR, Pavão ALB, Viacava F. Barreiras de acesso aos serviços em cinco Regiões de Saúde do Brasil: percepção de gestores e profissionais do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2019;35(11):e00120718. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311×00120718 PMid:31691779.
» http://dx.doi.org/10.1590/0102-311×00120718 - 17
Santos PLC, Padoveze MC, Lacerda RA. Desempenho dos programas de prevenção e controle de infecções em pequenos hospitais. Rev Esc Enferm USP. 2020 set 14;54:e03617. http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220×2019002103617 PMid:32935766.
» http://dx.doi.org/10.1590/s1980-220×2019002103617 - 18
Siegfried A, Heffernan M, Kennedy M, Meit M. Benefícios da melhoria da qualidade e da gestão do desempenho da acreditação em saúde pública: descobertas da avaliação nacional. J Public Health Manag Pract. 2018;24(3, Suppl 3):S3-9. http://dx.doi.org/10.1097/PHH.0000000000000692 PMid:29595591.
» http://dx.doi.org/10.1097/PHH.000000000000692 - 19
Oliveira HM, Silva CPR, Lacerda RA. Políticas de controle e prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde no Brasil: análise conceitual. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(3):505-11. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420160000400018 PMid:27556723.
» http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420160000400018 - 20
Djuric O, Markovic-Denic L, Jovanovic B, Bumbasirevic V. Concordância entre as definições de vigilância do CDC/NHSN e os critérios do ECDC no diagnóstico de infecções associadas à assistência à saúde em pacientes sérvios de trauma. PLoS One. 2018 out 4;13(10):e0204893. http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0204893 PMid:30286119.
» http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0204893 - 21
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Critérios diagnósticos de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde [Internet]. Brasília: ANVISA; 2017 [citado 2022 jul 6]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/criterios_diagnosticos_infeccoes_assistencia_saude.pdf
» http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/criterios_diagnosticos_infeccoes_assistencia_saude.pdf - 22
van Mourik MSM, Perencevich EN, Gastmeier P, Bonten MJM. Projetando vigilância de infecções associadas à assistência médica na era da automação e dos mandatos de relatórios. Clin Infect Dis. 2018 mar 5;66(6):970-6. http://dx.doi.org/10.1093/cid/cix835 PMid:29514241.
» http://dx.doi.org/10.1093/cid/cix835 - 23
Alvim ALS, Couto BRGM, Gazzinelli A. Qualidade dos programas de controle de infecção hospitalar: revisão integrativa. Rev Gaucha Enferm. 2020;41:e20190360. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2020.20190360 PMid:32813809.
» http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2020.20190360
Comments are closed.